Enquanto Renato corre para comemorar seu feito, os flamenguistas desabam |
Era o centenário rubro-negro. A festa deles era comandada por Romário, Sávio, Edmundo e Branco. O Maracanã, lotado, era por maioria vermelho e preto. A maioria já festejava antes mesmo da bola rolar, afinal, o favoritismo era totalmente do Flamengo. Bastava um empate e a taça ia pra Gávea.
Mas o Maracanã também estava pintado de verde, branco e grená. Mesmo sem ser a maioria, a torcida Pó-de-Arroz marcava presença e acreditava no seu time, que não contava com craques, mas tinha no ataque Renato Gaúcho.
Todo Fla-Flu já traz por si próprio um clima especial. Mas aquele era diferente. Era mágico. De um lado, o Tricolor querendo por fim aos 10 anos sem títulos relevantes, o Rubro-Negro querendo erguer a taça em seu Centenário. Era e iria ficar ainda mais especial.
Assim que rolou a bola, a euforia vermelha e preta foi água abaixo. O Fluminense passeou em campo, o Flamengo não via a cor da bola. Aos 30 minutos, Renato, mesmo sob forte marcação da defesa Rubro-Negra, consegue invadir a área e bater de esquerda para abir o placar pro Flu. A pressão continuou e aos 42 Leonardo aproveitou a sobra da defesa para fazer Flu 2x0. Estava fácil de mais para ser verdade, pensavam os Tricolores. E realmente ainda tinha mais para acontecer.
O segundo tempo foi totalmente diferente, o Flamengo foi pra cima. Branco acertou uma cobrança de falta do meio da rua no travessão, chamando a torcida Rubro-Negra para o jogo. O título que parecia encaminhado para as Laranjeiras começa a voltar para o Maracanã quando a defesa Tricolor bate cabeça e Romário diminui: 2x1. Na comemoração, confusão entre os Tricolores e Rubro-Negros. Sávio, ao tentar pegar a bola para recomeçar rapidamente o jogo, leva uma rasteira do zagueiro Tricolor Sorlei. O juiz expulsa o zagueiro e deixa o Flu com dez em campo. Na confusão, Marquinhos do Flamengo também é expulso, dando ainda mais gás pro jogo.
A pressão aumenta para cima do Flu, que vê o pior acontecer. Fabinho, aos 32 da etapa final, dá um belo corte, tirando os três marcadores Tricolores da jogada, e em seguida, batendo colocado no canto do goleiro Wellerson e empatando a peleja.
O 2x2 no placar levava o título para a Gávea. Para piorar, Lira, após carrinho violento no jogador Rubro-Negro, é expulso. Eram 9 contra 10 em campo. Se não fosse Fla-Flu poderíamos dizer que já estava decidido. Mas para a infelicidade dos flamenguistas, era Fla-Flu.
Enquanto os Rubro-Negros já festejavam a conquista, os Tricolores aguardavam o improvável. Eram corridos 42 minutos do último tempo do Campeonato Carioca de 1995. Ronald lança Aílton pela direita. O meia recebe, invade a área, e dá um, dois dribles para cima do beque Rubro-Negro. Olha para o interior da área e chuta (ou cruza). Os segundos viraram minutos. A bola rasga a área, devagar, como quem esperasse que alguém a desviasse para o gol. E ela encontrou uma barriga. Era a barriga de Renato. A barriga encobrida pela armadura de número 7 obedeceu a bola. Num rápido desvio, a barriga manda a bola para o gol. Lágrimas viraram risos, risos viraram lágrimas. Era o gol. Gol de Renato, gol do Fluminense. Era o gol do título.
Não foi um golaço, não foi daquelas obras-de-arte que grandes gênios do futebol já fizeram no passado. Foi muito mais do que isso. Foi um gol mágico.
Dali até o fim foi só aguardar com o coração na mão. Mas não havia mais tempo para o inesperado, ele já ocorrerá, e foi com as cores do eterno Fluminense. A Torcida Tricolor festejava a Taça. Não Romário, não é você o Rei do Rio. Nem Renato, apesar do feito magnífico. A coroa cabe ao Campeão. A coroa é do Fluminense, o eterno Rei do Rio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário