sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A Máquina Tricolor - Parte I

Muitos dizem que a Máquina Tricolor começou em 75, com a formação do poderoso esquadrão montado por Francisco Horta, mas a verdade, é que a primeira Máquina surgiu em 1970, como uma fase "beta", quando a Torcida Tricolor levava uma faixa ao estádio escrito "Pra frente, Máquina!". E, pra não deixar dúvidas, a equipe comandada por Paulo Amaral, sucessor de Tele, conquistou o primeiro título de nível nacional do Tricolor, a Taça de Prata.

A Taça de Prata equivale ao Campeonato Brasileiro de hoje em dia, com moldes bastante parecidos. Nos dias atuais, a CBF considera o campeonato como um campeonato brasileiro, logo, este foi o nosso primeiro título dos três que conquistamos. Nas 16 partidas disputas, o Tricolor obteve 8 vitórias, 4 empates e 4 derrotas, permitindo assim o Flu disputar a fase final do torneio. Além do Fluminense, estavam classificados Palmeiras, Cruzeiro e Atlético-MG.

O herói tricolor Mickey
Mickey e sua comemoração típica
após o jogo, já com a faixa de campeão
No quadrangular final, o Flu começou com uma vitória por 1x0 sobre o Palmeiras e derrotou também o Cruzeiro, pelo mesmo placar. Na partida decisiva, contra o Atlético-MG, o Maracanã estava lotado, com 112.403 torcedores presentes. O placar foi inaugurado por Mickey, o "artilheiro paz-e-amor", ganhando esse apelido por comemorar seus tentos erguendo suas mãos fazendo o sinal de paz e amor. Dessa vez não foi diferente: gol do Mickey e comemoração com o V nas mãos... V de Vitória? Não. A vitória escapou com o gol de Vaguinho, mas o V foi de Vencedor. Vencedor da Taça de Prata, pois mesmo o empate garantia o título pro Fluzão, que foi o primeiro carioca campeão nacional, para a alegria da massa Tricolor que acompanhava o jogo em todo o país.

No ano seguinte, o Flu conquistou o campeonato carioca, com certa polemica. Na partida final, contra o Botafogo, o 0x0 não saia do placar, favorecendo a equipe alvinegra, que seria campeã com o empate. As duas equipes tinham boas chances de vencer, mas quem precisava mesmo da vitória era o Flu. O jogo ia se encaminhando pro fim e pro título da Estrela Solitária até que aos 43 minutos, bola cruzada na área. O arqueiro alvinegro, Ubirajara, saiu pra cortar, mas acabou sendo impedido por Marco Antonio. A bola sobrou pra Lula, que mandou pro gol. O tumulto foi formado na hora. Os alvinegros protestando pelo lance, alegando que o lateral tricolor havia cometido falta no goleiro, enquanto os Tricolores defendiam o árbitro, que validou o gol, que deu o título ao Fluzão.

Com o título nacional, o Tricolor ganhou o direito de disputar a Copa Libertadores pela primeira vez em 1971. Assim que entrou na competição, embalado pelo título estadual, o Flu mostrou que não estava de brincadeira, e venceu fácil os quatro primeiros jogos (2x0 no Palmeiras, 3x1 no Desportivo Galicia-VEN, 6x0 no Despotivo Itália-VEN e 4x1 no Galicia). No entanto, nas duas últimas rodadas, uma reviravolta aconteceu. A derrota para o D. Itália no Maracanã colocou em risco a situação do Flu na competição, pois somente o primeiro colocado avançava. Na última partida, uma disputa de vida ou morte contra o Palmeiras, e o Tricolor fracassou diante a equipe alviverde ao perder por 3x1.

Depois de falhar na Libertadores, o Flu passou o ano de 1972 em branco. No ano seguinte, no entanto, o Tricolor voltou a erguer uma taça. Liderados pelo experiente Gérson, o Canhotinha de Ouro, o Fluminense derrotou o Flamengo na grande final por 4x2, levando a 21ª taça de Campeão Carioca pras Laranjeiras.

O ano de 1974 foi mais um ano sem títulos pro Flu, mas em compensação, no ano posterior, o Fluminense Football Club deu um passo muito importante em sua história. O presidente da época, Francisco Horta, resolveu investir pesado no futebol Tricolor. Abriu o cofre e trouxe grandes grandes do futebol brasileiro, como Rivellino, que vivia má fase no Corinthians depois de anos brilhante no clube, Paulo César Caju, que estava no Olympique de Marselha-FRA, Mário Sérgio, do Vitória-BA e Zé Mário, do Flamengo. Também teve o grande zagueiro Edinho, que surgiu como profissional naquela época.

Com o grande elenco montado, mas ainda sem Caju, o Flu, ou melhor, a Máquina Tricolor (dessa vez na versão 1.0), foi à campo pela primeira vez contra o Corinthians, no sábado de carnaval de 1975. O palco, o Maracanã, que contava com cerca de 40 mil Tricolores, que preferiram ver a Máquina do que aproveitar as festas. Certamente, não fizeram um mal negocio. Com três gols de Rivellino, o Fluzão massacrou o alvinegro por 4x1 e deu o pontapé inicial para uma vitoriosa fase do Tricolor.

A Máquina campeão em 1975
Logo na primeira competição disputada pela Máquina, já veio um título. Após vencer a Taça Guanabara, com apenas uma derrota, o Flu disputou um amistoso contra o poderoso Bayern de Munique, praticamente a base da Seleção Alemã campeã do mundo no ano anterior. Mas nem o fantástico esquadrão alemão foi páreo para a Máquina. Se eles tinham Beckenbauer e Gerd Muller, nós tinhamos Cafuringa, Rivellino e Caju, que estreava pelo Flu. O goleirão alemão Sepp Maier teve muito trabalho pra parar as finalizações Tricolores, mas acabou traído por seu próprio companheiro, o artilheiro Gerd Muller, que talvez irritado por não conseguir passar pela zaga Tricolor, resolveu mandar a bola na outra rede.

A equipe alemã, que nunca saia da Europa, voltou com más recordações do território estrangeiro, e levou na bagagem o encanto da Máquina Tricolor, que depois de derrotar a melhor equipe do mundo, foi com toda a moral necessária pra seguir vencendo no cariocão. No triangular final, a primeira partida foi contra o Vasco. A goleada por 4x1 não seria a mesma coisa se não tivesse aquele gol espetacular de Roberto Rivellino. Já com 3x1 no placar, o camisa 10 aplicou um elástico sensacional no marcador, driblou o resto do time, invadiu a área e mandou pra rede e pra história do futebol como um dos gols mais lindos do todos.

Na partida final contra o Botafogo, uma derrota por 1x0, que não tirou a Taça das Laranjeiras, pois a diferença por um gol ainda dava o título de Campeão Carioca ao Fluzão, que diante de 107.703 Tricolores, comemorou seu 22º título estadual.

No entanto, no Campeonato Brasileiro, a Máquina decepcionou. Depois de uma bela campanha, a equipe parou no poderoso Internacional, de Paulo Cesar Falcão, que marcou um dos gols na vitória Colorada no Marcanã. O outro gol foi de Lula, que havia jogado no Flu anos antes.

Em 1976, mais uma vez o presidente Francisco Horta resolveu inovar. Para igualar as forças entre os grandes do Rio, propôs uma série de trocas de jogadores entre Botafogo, Flamengo, Vasco e principalmente Fluminense. Com o clube de General Severiano, o Flu trouxe o meia Dirceu e mandou o meia Mario Sérgio e o atacante Manfrini. Com o rubro-negro, as negociações envolveram a vinda do goleiro Renato, o lateral Rodrigues Neto e o atacante argentino Doval, e mandando pra Gávea o goleiro Roberto, o lateral Toninho Baiano e o meia Zé Roberto. Com o cruzmaltino, talvez a negociação mais sem noção de todas. O Tricolor pagou um milhão de dolares pelo zagueiro Miguel, ainda cedendo o também zagueiro Abel (hoje nosso técnico), o lateral Marco Antonio e o meia Zé Mario. Com isso, a Máquina perdeu algumas peças, mas foram bem repostas, tanto é que a Taça continuou em Laranjeiras.

A Máquina contava, além de tudo, com uma peça muito importante, contratada ainda no ano anterior. O lateral Carlos Alberto Torres retornava ao Fluminense, e junto à Caju, Rivellino, Edinho (que vinha crescendo), Gil e Doval, foram em busca de mais uma conquista pro Tricolor. Com um futebol bonito e técnico, lembrando o Barcelona de hoje, o Flu deitava e rolava em cima dos rivais. Fazia questão de jogar bonito, até mesmo quando perdia, perdia com estilo.

A Máquina de 76, bicampeã carioca
No entanto, foram poucas derrotas naquele ano de 76. No Carioca então, somente duas. Na fase final, o Tricolor venceu o América e empatou com Botafogo e Vasco, necessitando de um jogo extra contra a equipe cruzmaltina. Neste jogo, 127.052 pagantes, que viram um jogo dramático, que seguiu sem gols até o último minuto da prorrogação. Aos 14 minutos, falta pro Flu. Na bola, PC Caju. O atacante cruzou na área, Pintinho desviou de cabeça e Doval manda de cabeça pra rede, para o delírio da Torcida Tricolor, que mais uma vez se sagrava Campeão Carioca.

O brilho daquele time era intenso, e parecia que mais uma taça teria o nome Fluminense ao seu pé: a taça de Campeão Brasileiro. Era oque faltava pra completar aquela temporada. Todos apostavam suas fichas no Tricolor, que mais uma vez chegou como favorito na semi-final. Dessa vez, o rival era o Corinthians. O Maracanã, que era pra ser tomado pelos Tricolores naquele dia, acabou ficando praticamente dividido. Horta resolveu ceder 45 mil ingressos à torcida corintiana. Os ingressos para o jogo se esgotaram rapidamente, tanto pelo lado Tricolor quanto pelo corintiano. No dia da partida, o Rio foi invadido pelos paulistas, tornando a cidade um pandemônio. No estádio, o lado destinado aos alvinegros estava sim, cheio, mas não como a mídia diz. Nunca, em hipótese nenhuma que a torcida corintiana era maior que a do Fluminense. Haviam 45 mil corintianos, contra mais de 100 mil Tricolores. A tal "Invasão Corintiana" pode ser encarada como verdade, mas não como a mídia diz atualmente, que a cada aniversário desse histórico jogo, fazem questão de aumentar cada vez mais o número de corintianos. Eram 45 mil, e ponto final.

No campo, o Tricolor enfrentou dificuldades com o gramado inundado pela chuva que tomou conta do Rio. Especialista no toque de bola, de pé em pé, a Máquina teve dificuldades pra andar, mas andou. Chegou a fazer seu gol, com Pintinho, aos 18. Mas com a água enferrujando a Máquina, o Flu foi caindo de produção, e acabou cedendo o empate, com o gol de Russo, aos 29 do primeiro tempo.

O jogo foi ficando truncado, e o empate persistiu no Maracanã. Prorrogação e o placar seguia em 1x1. A disputa seria mesmo nos pênaltis. Neles, a vitória corintiana, que arruinou mais um sonho Tricolor de ser campeão nacional.

No ano seguinte, Francisco Horta fez mais uma série de negociações, mas dessa vez, desmontou a Máquina, que teve dois anos de grande futebol, mas de poucos títulos. Com apenas Roberto Rivellino de grande nome, o Flu conquistou apenas a Taça Teresa Herrera em 77. Venceu o Feynoord e o Dukla, por 2x0 e 4x1, e levou o caneco pra casa.

Em 1978, a ida de Rivellino pro mundo árabe acabou com o super-time, que ficou apenas nas lembranças de dois anos brilhantes. O ano passou em branco, assim como 79, que encerrou a brilhante década de 70 sem títulos a altura das primeiras fases da Máquina Tricolor.

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